A culpa é do tempo. Importação de eletricidade dispara 129%
A pouca chuva que tem caído este ano em Portugal continua a ter consequências e não é só na agricultura. Em julho, Portugal já tinha importado mais 129% de eletricidade que no mesmo período do ano passado e o saldo importador - a diferença entre o que se importa e o que se exporta - cresceu 364%.
"São mais três mil MW que estamos a ir buscar lá fora, porque a produção hídrica está a um terço do que devia", alerta o presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), António Sá da Costa. E isto numa altura em que as exportações de bens cresceram 9,1% (primeiro semestre).
Este ano, nem as energias renováveis conseguiram ajudar a diminuir o saldo importador porque "houve uma falha muito grande na hídrica", acrescenta aquele responsável. Segundo dados da REN, a produção nas barragens caiu 62,7% e representou apenas 10% do consumo, a mais baixa de todas as formas de produção, segundo as conta de Sá da Costa, que referem as importações com um peso de 18,1%, as renováveis com 26,9% e a térmica com 36,7%.
No entanto, nem esta registou um crescimento muito significativo ao longo do ano, já que a produção a gás caiu abruptamente devido ao aumento do preço da matéria--prima. De acordo com os dados da REN, as centrais a gás da EDP no Ribatejo e na Figueira da Foz (Lares) reduziram a produção, em comparação com o período homólogo, em 78,2% e 67,1%, respetivamente. Já a central da Turbogás na Tapada do Outeiro recuou 44,1% e a da Endesa, no Pego, caiu 9,9%.
A alternativa tem sido recorrer ao carvão. "Por causa das descobertas de gás xisto, os EUA deixaram de consumir carvão e como há menos procura, o preço baixa", explicou António Sá da Costa, acrescentando ainda que, além disso, "até as licenças de CO2 estão agora ao preço da uva mijona". A prová-lo está o aumento de 71,5% na produção da central da EDP em Sines e o de 151,7% na central da Tejo Energia, em Abrantes (Pego).
Renováveis já são 37,7% do consumo
O único fator positivo da leitura dos dados da REN até julho, diz Sá da Costa, está relacionado com o facto de a produção através de renováveis e das barragens - energias limpas - já pesar 37,7% do consumo de eletricidade em Portugal, ou seja, "mais do que a produção térmica, que foi 36,7%", repara.
Para o presidente da APREN, esta situação mostra o peso cada vez maior que as renováveis e as energias limpas têm no consumo e na produção em Portugal, além do peso que têm na economia. "Em 2011, a importação de combustíveis fósseis baixou 7% por causa da existência das renováveis. Foram 720 milhões de euros que o país poupou. É muito dinheiro", salientou.
No entanto, este tipo de energia vai estar sempre sujeito ao clima e por isso é que, enquanto não houver produção suficiente, por exemplo de eólicas ou de solar, para cobrir as falhas nas barragens - e vice-versa -, vai sempre haver aumentos nas importações.
"Na União Europeia fala-se em ter a produção 100% renovável em 2050, mas estou convencido de que em Portugal até vai ser mais cedo, talvez aí em 2042 ou 2044", remata Sá da Costa.
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